hoje a cidade despertou
e eu não consegui ler os jornais
sob as sirenes da manhã
resolvi queimá-los no quintal
como se eu pudesse me esquivar
como se fugir fosse melhor
e fechando os olhos para dor
apagasse da pele seu ardor
hoje mais um dia tão normal
nas calçadas uma fome a mais
nas esquinas sempre o mesmo fim
nos sinais ainda a mesma cor
uma multidão caminha só
tantos rostos quase sem feição
máquinas marchando sob o sol
e eu sou mais um na contramão
no meio do caminho
tem uma pedra de esquina
que pena que os homens
não conseguem enxergar
no meio dessa lama uma porta,
água viva e arde nos meus olhos
a vontade de recomeçar